Por que as minhas Magias não funcionam?
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26 de novembro, 2024A Bruxa de Évora, de origem ibérica, também conhecida como “Moura Torta” ou “Lagarrona“, é uma figura lendária do folclore português, associada à cidade de Évora, em Portugal. Esta figura é descrita como uma feiticeira poderosa e sábia, com vasto conhecimento em magia e alquimia. Temida e respeitada, suas histórias variam entre ser uma curandeira benevolente e uma praticante de feitiçaria.
A Bruxa de Évora é frequentemente associada a São Cipriano, o “Feiticeiro de Antioquia”. Antes de sua conversão ao cristianismo, São Cipriano era um famoso mago e feiticeiro, conhecido por seu profundo conhecimento em ocultismo. Segundo a tradição esotérica, a Bruxa de Évora não apenas estudou, mas foi, na verdade, a mentora de São Cipriano, transmitindo-lhe seu vasto conhecimento de magia e feitiçaria. Ela teria ensinado a ele muitos dos conceitos e práticas esotéricas que mais tarde seriam imortalizados nos famosos grimórios de São Cipriano, que são livros repletos de feitiços, encantamentos e rituais mágicos.
Esse vínculo entre a Bruxa de Évora e São Cipriano não só destaca sua importância como uma praticante poderosa das artes ocultas, mas também reforça a continuidade e a transmissão dos conhecimentos esotéricos ao longo do tempo. A influência da Bruxa de Évora na formação de São Cipriano perpetua a fascinante e misteriosa tradição da magia em Portugal.
A Bruxa de Évora também ressurge na mistura das crenças e dos ritos de índios e colonos, dando origem ao Catimbó, o primeiro culto sincrético do Brasil. O Catimbó é feitiçaria, bruxedo e curandeirismo, com seu receituário, espiritismo, amuletos e dietas para afastar fantasmas e criaturas assombradas, como as mulassem-cabeça. Inicialmente centrado na medicina herbácea e na feitiçaria de São Cipriano e da Bruxa de Évora, o Catimbó foi descrito por Câmara Cascudo como um movimento que se aproximou do baixo espiritismo.
Muitos catimbozeiros juram que a Bruxa de Évora ainda pode ser vista montada em um cavalo fantasma, uma figura aterrorizante que apavora as estradas, sendo percebida pelas suas passadas firmes e pela luz clara que emana, desenhando seu vulto no caminho.
Quando a Bruxa de Évora chegou ao Brasil, ela não surgiu montada em dragão nem em vassoura, mas como uma alma penada, visível apenas nas noites de tempestade, pelos marujos da armada portuguesa. Ela viajou no fundo dos baús de madeira, nas histórias contadas nas noites escuras, e no jogo de dados da marujada. Com o tempo, ela se tornou parte do imaginário popular, sendo incorporada à Umbanda como uma Pomba-gira. No entanto, ao contrário das Pombas-giras mais joviais e sensuais, a Bruxa de Évora era uma entidade velha e sábia, com a pele morena marcada pelas rugas da idade. Seu cabelo, ainda negro, era preso em um coque simples, sem vaidade.
Sua presença no Catimbó e na Umbanda é marcada pela reverência à sabedoria e à força espiritual das antigas bruxas. Ela é uma figura que habita as canções dos repentistas, cantada nos catimbós do Nordeste, reverenciada em seus cânticos que descrevem suas travessuras e seu poder mágico. Nas feiras e acampamentos, a Bruxa de Évora foi cantada e contada por mestres populares, como uma figura imortal, cuja magia transcende o tempo e o espaço.
Nos cantos dos repentistas, a Bruxa de Évora surge como uma velha feiticeira que traz consigo um gato feiticeiro, vagando pelo mato durante o dia e iluminando a noite com seu candeeiro. Sua presença é sentida em cada canto do sertão brasileiro, onde ela continua viva nas lendas e na cultura popular.
A Bruxa de Évora, ao lado de São Cipriano, permanece viva na imaginação popular e nas práticas espirituais. Sua jornada, atravessando o oceano, a fez transcender as fronteiras do tempo e do espaço, tornando-se parte indelével da história e da mitologia de ambos os países. Hoje, sua lenda continua a ecoar nas canções, nas rezas e nas tradições, mantendo-se como uma figura atemporal.
Referências bibliográficas
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Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s/d.
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JONES, Evan; VALIENTE, Doreen. Feitiçaria, a tradição
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